terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

                                                Linha do pescoço..


Poder.. o que é? Como ter poder.. Pra que serve?
Certamente já nos deparamos com questionamentos semelhantes ao longo de nossas vidas e muitas vezes apenas acreditamos que vivemos o tal poder em uma conquista material, uma discussão ganha com bons e incontestáveis argumentos, sem contar a ilusão do poder financeiro..

Relembrando algumas experiências de minha vida com minha mãe, trouxemos a tona uma passagem interessante a qual compartilho aqui para que você, dentro de seu entendimento e aceitação, faça o que achar melhor com esta leitura.


No ano de 1985 na cidade de Dois Irmãos, eu volta da escola que era longe de casa, resolvi seguir por um atalho que cortava um pequeno e fechado vale.
O caminho, rodeado por grandes arvores bem copadas e bloqueando o calor do sol, segui com aquele ar suave e fresco que só nestes lugares encontramos.. Logo cheguei a ponte velha de madeira que balançava muito com passos leves.. Só aquele movimento da ponte ja me deixava com o coração amil, pra não dizer outra coisa.
Bem, passado a ponte continuei a boa e refrescante caminhada acompanhado do silêncio que só era quebrado por um pássaro e outro..
Saindo da proteção daquele túnel verde me deparei com um vasta área de vegetação que lembra muito um trigal, e a subida do atalho mais curta com espaço para uma pessoa mesmo.. Seguindo a caminhada, quase no topo do morro avistei uma casinha feita folhas e papel, parei e ja minha mente começou seu sutil trabalho de imaginar tudo o que poderia estar naquela casinha...
Quem ja não escutou do pai ou da mãe aquelas histórias do Saci ou o véio do saco, véio da carroça e o pior... a tal da mula sem cabeça... Meu, para um muléque de 10 anos andando sozinho no mato, isso foi algo pra lá assustador..
E para ajudar o processo de quase me borrar eu vejo saindo da casinha um catador de lixo que ja era cercado de lendas histórias e tudo mais que manteria até a mais arteira criança longe... E o bunitinho aqui, no caminho dele...

Eu o vi e congelei.. olhos arregalados, joelhos tremendo e a bexiga sem controle algum.. ( entendeu né).
Ele, percebeu minha presença e tranquilamente disse: Pode passar garoto, não tenha medo..
Tchê.. eu e uma árvore era a mesma coisa... congeladoooo
Mais uma vez ele olha e diz: Venha garoto assustado, pode passar, eu não cozinho crianças e junto deu uma boa risada.. Fiquei tranquilo com o olhar e a risada e dei um passo meio bocó..
Ele vendo meu pânico falou: garoto, faz como a rocha e vem tranquilo..
Rocha disse eu, como assim? 
Venha que te explico, você nem precisa chegar muito perto, venha e veja, não tenho minhas pernas e logo não poderia correr atras de você caso tenha este medo tambem..
Juro que fiquei um pouco mais tranquilo e segui até ele, pude ver que ele me disse a verdade e ai fiquei ali parado olhando-o.
Alguns segundos de silêncio e perguntei: Moço, como poderia ser como a rocha?
Ele vendo que eu estava menos assustado falou..
Garoto, você esta com medo de mim ou medo das histórias que te contam?
Não entendi bem a pergunta e respondi que apenas estava com medo, pequeno, mas ainda era era medo.
Então ele perguntou porque eu estava parado ali, se ja poderia seguir meu caminho.. Falei que fiquei curioso.. Como poderia ser como a rocha?
Hummm, então é sua curiosidade que te fez ficar.. 
Vamos lá então..
Quer mesmo saber como ser como a rocha? Sim, respondi rápido.
Certo, mas preciso que você preste bem atenção ta bom..
Tomado pela curiosidade e com uma boa distância dele só respondia que sim, prestarei atenção.

Olhe para o pé do morro, lá embaixo, você vê aquela grande e solitária árvore?
Sim vejo..
Logo mais abaixo você pode ver tambem aquela rocha imensa?
Sim mas não parece tão grande daqui. Isso mesmo, parece pequena daqui e sendo assim quero que você pegue esta vara grossa e bata nela com força, grite com ela, brigue com ela!
Sem entender muito, fui até a rocha que era muito grande, parei e fiquei olhando por um tempo..
Voltei e disse: Moço, é uma rocha, por mais que grite, esbraveje, é uma rocha.. e mais se eu for bater nela é capaz até de me machucar, é um rocha!!
Certo que sim garoto, é uma rocha.
Novamente falei, é uma perda de tempo ir lá com esta vara ou só gritar com ela.

Ele me olhou bem e falou: Ter poder é isso.. Mesmo em total silêncio e sem tomar qualquer atitude, você tem o respeito natural das pessoas..
É delicado e tem sempre que tomar cuidado para que a sensação de poder nunca ultrapasse a linha do pescoço.




Ninho Dutra

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